Contabilidade criativa para o Hospital São Miguel
Contabilidade criativa soa como uma manipulação da realidade, quando o gestor age para obter a imagem (falsa) desejada para si ou para o seu empreendimento. É isso que deduzo do artigo do auditor e professor universitário de Auditoria, Perícia Contábil e Contabilidade Internacional, Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro, e de outras fontes consultadas.
Ou seja, um arranjo contábil indevido, e é o que aparenta ser a prática adotada no caso de repasses de dinheiro público – do Município, do Estado e da União – para o Hospital São Miguel em 2017.
Basta conferir que, no primeiro semestre do ano, conforme a Prefeitura, os valores destinados para o São Miguel foram de R$ 7.730 milhões. Quinta-feira (14), os valores informados saltaram para R$ 17,7 milhões. Sexta-feira (15), foram “mais de R$ 10 milhões destinados ao Hospital Arcanjo São Miguel por meio de repasses e empréstimos”, disse a Prefeitura.
Isto é, a confusão com os números leva a crer que existe um “verdadeiro descontrole na gestão da área da saúde pública municipal em relação ao Hospital São Miguel”, como já foi denunciado na Câmara Municipal.
A questão toda, agora, é esclarecer se a prática não recomendada de “chutar números ao vento” é intencional, a fim de capitalizar simpatia popular, ou, no mínimo, uma dificuldade de mexer com valores no mundo do serviço público.
De qualquer modo, é preciso apurar quanto de dinheiro público foi repassado para o Hospital São Miguel em 2017, quais foram suas outras fontes de receita, como gastou, quanto deve e de quem tem a receber.
Instâncias fiscalizadoras como o Conselho Municipal da Saúde, a Câmara Municipal e o Ministério Público, este que acompanha os desdobramentos da intervenção feita pelo Município no Hospital São Miguel, existem também para isso.
Afinal de contas o assunto é de natureza pública e o governo municipal deve zelar pela manutenção, equilíbrio financeiro, lisura e regular funcionamento do Hospital São Miguel.
*Jornalista diplomado e editor do Repórter Gramado.
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